segunda-feira, 1 de abril de 2013

O lilás da ilha Terceira



Quando me desafiaram a escrever para esta página, enquanto Açoriana e Terceirense, não sabia bem o que podia dizer que já não tivesse sido dito nos últimos 100 anos, acerca de tradições bárbaras que teimam, à custa de poucos, em persistir.

Aproveitei, então, a oportunidade para juntar um outro assunto não menos incómodo: a base das Lajes, que a juntar-se às tauromaquia fazem da ilha um ponto de repúdio por parte de todas as pessoas que desenvolveram sentimentos anti-militaristas e têm o mínimo de sensibilidade perante questões de direitos humanos e ambientais.

Não nos falta nada, criamos animais para nos divertirmos a humilha-los e ganhamos uns trocos à custa de guerras mais ou menos explicitas. Estamos manchados de sangue e sofrimento, e essa mancha cobre o nosso povo de vergonha.

Falharam redondamente ao atribuírem uma cor à Terceira. Lilás? Como pode ser lilás? Lilás é cor das lutas pelos direitos humanos, pela igualdade de género, pela liberdade e igualdade sexual. Lilás é o que dá cor às lutas sociais por um mundo mais justo e digno.

O lilás dissolve-se quando falamos da Terceira. Dissolve-se em cores tristes, humilhantes e desonestas, quando desta ilha só conhecem uma base militar, que nos coloca nos itinerários de guerras que não nos pertencem, e a tauromaquia que, inacreditavelmente, merece mais atenção e “cuidados” - pois sabemos que à custa dela poucos ganham muito – do que o estado da educação ou políticas de ação social de combate à fome na infância, por parte de autarcas e deputados regionais.

Lilás, dizem eles.

Querem que tenhamos orgulho. Do quê? De sermos incapazes de aplicar as tradições ao conhecimento que a humanidade tem hoje? De sermos representados no Parlamento Regional por portadores de pensamentos e discursos saídos dos anos 50? Orgulho em termos ficado conhecidos por termos recebido Blair, Bush, Durão e Aznar quando decidiram matar milhões, durante a Cimeira das Lajes/ Cimeira da Guerra?

Ilha lilás, querem que acreditemos.

Orgulho teremos quando já não tivermos vergonha. Orgulho teremos quando tivermos a coragem de romper com o passado que nos incomoda. Orgulho teremos quando não nos pertencer o auge do conservadorismo e moralismo. Orgulho teremos quando não estivermos na lista de sítios a boicotar por humanistas e ecologistas. Orgulho teremos quando deixarmos de financiar a barbárie e mais ninguém viver à custa da violência.

Talvez esteja na hora de fazermos juz à cor que nos deram, meu povo!
Vivemos tempos de mudança, em que os ataques e roubos que fizeram às bases sociais ficaram a olho nu. A educação, a ação social, a saúde, a cultura que desenvolve o espírito e pensamento critico, não podem continuar a ser o parente pobre, o filho bastardo, os restos do prato das políticas dos governantes e representantes da ilha.
Talvez esteja na hora de dizer basta e exigir um presente e futuro dignos, que não nos envergonhem mais.

Está na hora de ser lilás!

Francisca M. Ávila
Santiago do Chile







2 comentários:

ATENÇÃO: Comentários com conteúdo ofensivo e de teor preconceituoso serão eliminados